Por Vitor Carrara
[SEMANA DAS CRIANÇAS E DOS PROFESSORES]
Para a Corrida Ancestral, faz todo sentido o dia das crianças ser próximo ao dia dos professores, e isso tem tudo a ver com a corrida.
O paradigma evolucionário é muito pouco aplicado no Brasil, sobretudo nas áreas da saúde e se faz necessário para o entendimento dos aspectos biológicos do ser humano. Dentro desta perspectiva está à compreensão do crescimento e desenvolvimento humano, os marcos do desenvolvimento motor que vamos tratar como ontogenia.

A psicologia evolucionária separa à aprendizagem biológica de um ser humano do nascimento a fase adulta em uma fase primária e outra secundária.
Na primária, não se faz necessário recursos estratégicos como uma pedagogia sistematizada de ensino, chamada de psicologia intuitiva por alguns autores como David C. Geary.
Nessa fase, se a criança for deixada em condições naturais, interagindo com o ambiente, outras crianças, adultos e até animais como os cães, sem bloqueio das informações sensórias, são capazes de assimilar a língua materna, reconhecer recursos naturais como animais e plantas, desenvolver senso numérico, leitura da face e expressões com reconhecimento de sentimentos através da interpretação destes e é claro, a habilidade motora com noção espacial e desenvolvimento progressivo da locomoção. Para o sucesso motor, cada fase é dependente da que a antecede.
Na aprendizagem secundária, é necessária instrução explícita com metodologia e pedagogia adequada para assimilação de atividades mais complexas como artefatos culturais, cálculos mais apurados e equações, uma segunda língua e atividades motoras que não são naturais e sim culturais, como esportes e expressões corporais artísticas.

O fato é que a corrida deveria fazer parte da aprendizagem biológica primária. Crianças que se desenvolvem sem pular as fases adequadas são corredores naturais com excelente “não-técnica” de corrida, e assim deveriam se manter como adultos, uma vez que o ser humano é um corredor natural e essa ação foi imprescindível pra nossa sobrevivência durante mais de 2 milhões de anos. Essa informação já é bem estabelecida pela ciência através das pesquisas do laboratório de evolução da universidade de Harvard chefiada por Daniel Lieberman.

Muitas etnias se mantem como grandes corredores naturais até hoje, e nós, “civilizados”, também temos condições fisiológicas e morfológicas para tal, não fossem convenções sociais que rompem estímulos e reprime a capacidade biológica intrínseca pela utilização de órteses como tênis, cadeiras, meias de compressão e aquisição de biomecânica equivocada pela falta de aplicação do paradigma evolucionário e a antropologia biológica.
Que fique bem claro que a Corrida Ancestral não se resume a correr descalço e sim adotar esse arcabouço motor ancestral para estabelecer qualidade de movimento antes de se preocupar com utilização de equipamentos e estratégias de treinamento como periodização, fisiologia do exercício etc. Sem descartar de hipótese alguma a contribuição desse conhecimento posteriormente ou até concomitantemente, pois desenvolvemos projetos em parceria com treinadores, fisiologistas, fisioterapeutas, etc.

A autora Katy Bowman no livro Move your DNA, faz uma brilhante comparação entre exercício e nutrição. Ela propõe que se preocupar apenas com volume e intensidade do treinamento é como se preocupar apenas com ingesta calórica, enquanto estratégias de boa nutrição pelo consumo adequado de nutrientes representa a preocupação com a qualidade dos gestos motores.
Se a corrida é uma ação natural mais complexa, você deveria ter todas as ações motoras mais básicas que a antecede bem estabelecidas, assim como acontece no desenvolvimento motor infantil.
Mas e agora que já somos adultos, o que fazer?
É aí que os pequenos macaquinhos corredores se tornam nossos melhores professores!

É possível reestabelecer qualidade dos movimentos mais primários, lançado mão da utilização da ontogenia, ou seja, movimentos naturais por sequencia orgânica do desenvolvimento motor infantil.
O fisioterapeuta brasileiro Pablo Santurbano, através da Fisioterapia Evolucionária (FBA), propõe uma regressão de movimentos para padrões mais simples a fim de recuperar funções de movimentação e locomoção humana. Ele chama de aprisionamento Paleo-Motor aquelas estruturas morfológicas importantes que foram reprimidas por não uso ou mau uso por mecânica inadequada ou, por exemplo, pelo uso de calçados, como encurtamento de tendão calcâneo, desabamento dos arcos plantares, etc.
É como se nós “resetássemos” nosso corpo.
Assim é a visão da Corrida Ancestral, propor uma desconstrução de padrões culturais equivocados para então [re]construir uma “não-técnica” natural de corrida. Para nós a corrida deve ser fácil, livre e divertida, como a corrida de uma criança.
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Boa corrida e divirta-se!
Exelente Texto.Cabe a nos observamos mais as criancas e procurar deixa las mais livres parsa os movimentos naturais .A nossa Paola nos da uma licao com seus movimentos expontaneos.