Você sabia que as árvores são moldadas pelo vento? A direção e a intensidade do vento (assim como a incidência de luz solar) que determina o crescimento do tronco e dos galhos, inclusive os ângulos que esses se dispõem.

Do mesmo modo que o formato da árvore está totalmente relacionado com as cargas que ela recebe ao longo do seu desenvolvimento, a forma que o nosso corpo tem e o modo que nos movimentamos foram totalmente influenciados pelas cargas impostas ao organismo no decorrer da nossa vida.

Independente da nossa vontade nosso corpo está exposto a cargas 100% do tempo. Quando movimentamos isso fica mais evidente, a contração de um músculo pode gerar tensão em algumas estruturas ou o impacto de uma atividade pode gerar compressão em outras, contudo inclusive quando estamos supostamente em repouso as cargas continuam atuando e moldando o modo como nosso corpo se estrutura e, consequentemente, modo como nos movimentamos.

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Na verdade, há um campo de estudo chamado mecanobiologia, que se propõe a entender como forças e mudanças físicas nas células e tecidos orgânicos contribuem para o nosso desenvolvimento, nossa fisiologia e as doenças que nos afligem. Ao processo pelo qual nossas células sentem e respondem aos sinais mecânicos dá-se o nome de mecanotransdução. Talvez entre os profissionais da área da saúde o princípio de Julian Wolff sobre como os ossos se formam e se remodelam seja o mais conhecido. Contudo essa remodelação estrutural acontece não só no osso, mas por todo tecido conjuntivo.

Sua estrutura e seus movimentos são resultado do modo como você se movimentou ou deixou de se movimentar no decorrer de toda a sua vida. Imagine um corpo feito de argila e cada carga imposta nesse corpo influencia sua forma. Essas cargas variam de acordo com o tipo, a intensidade e a frequência de cada movimento feito. Submeta mentalmente esse corpo a todas as cargas que você já sofreu no decorrer da sua vida, desde seu desenvolvimento enquanto bebê, criança e adolescente, até as suas atividades favoritas (que não precisam ser necessariamente atividades físicas, ficar sentado no sofá, induz cargas ao seu corpo que irão moldá-lo de algum modo), passando também pelos seus acidentes, pelas lesões esportivas, sua escrivaninha na escola, seu sofá predileto, a postura que costuma dirigir etc. Todas essas cargas moldaram seu corpo argiloso e o resultado de tudo isso é o corpo e os padrões de movimento que você tem hoje.

Se você nasceu numa cultura ocidental civilizada é possível que a história a seguir reflita bem seu histórico biomecânico.

Experimentamos cargas totalmente diferentes daquelas que nossos ancestrais experimentavam há cem, mil, cem mil anos e temos uma série de problemas musculoesqueléticos associados a um ambiente mecânico inapropriado. Muitas doenças musculoesqueléticas podem ser simplesmente doenças de mecanotransdução, como por exemplo a osteoartrose e a osteoporose.

Assim para termos saúde precisamos entender que não basta fazer exercícios, precisamos gerar cargas em nossos corpos mais condizentes com a nossa natureza. Precisamos inserir mais movimentação e movimentação de qualidade no nosso dia-a-dia. Da mesma forma que deveríamos procurar ingerir comidas saudáveis, deveríamos pensar em movimentos saudáveis.

Do mesmo modo que não adianta cumprir sua demanda energética ingerindo 2.000 kcal de qualquer alimento, não deveria ser suficiente cumprir uma quota de exercício físico realizando qualquer tipo de movimento. Alimento e movimento são situações análogas e interdependentes. A qualidade dos nutrientes e cargas são preocupações que devemos ter para termos um corpo saudável metabolicamente e musculoesqueticamente.

Este texto foi uma interpretação livre baseada nos capítulos II e III do livro “Move your DNA” de Katy Bowman sem tradução para o português.

Bowman K. Move your DNA: restore your health through natural movement. First printing – United States of America, 2014.

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