E se eu te disser que o melhor velocista de todos os tempos, Usain Bolt, poderia ser derrotado por um ancestral Aborígene Australiano? Parece brincadeira, mas alguns achados recentes mostram que nossos atletas olímpicos não são tão bons assim.

Um sitio arqueológico encontrado na Austrália mostra diversas pegadas de um grupo de caçadores-coletores que viveu nesse local por volta de 46 mil anos atrás. Um grupo composto por vários indivíduos desde adultos a crianças, que deixaram suas marcas de pisada num amplo espaço aberto e lamacento.


Sítio arqueológico australiano…

Esses achados renderam grandes frutos para o entendimento da locomoção humana, desde os formatos dos pés e a dinâmica de marcha e da corrida. Mas o que mais chamou a atenção foi a análise da passada de um dos indivíduos, apelidado de T8, que pelo cálculo da distância entre as passadas e a pressão no solo, esse caçador estava numa velocidade de aproximadamente 37km/h, isso mesmo 37km/h numa superfície lamacenta!

Pegada do indivíduo “T8”

Bolt, em comparação, atingiu uma velocidade máxima de 42 km/h durante o seu mundial de 100 metros com o recorde de 9,69 segundos nas Olimpíadas de Pequim. Porém, segundo o Antropólogo Peter McAllister, o caçador deveria estar correndo próximo do seu máximo se estivesse perseguindo ou fugindo de um animal, mas se ele conseguiu atingir essa velocidade nesse tipo de terreno, o antropólogo suspeita que T8 tinha grandes chances de superar Usain Bolt se tivesse todas as vantagens que o atleta tem, como superfície plana, calçados com cravos, e toda uma metodologia de treinamento voltada para essa atividade.

Todavia esses grandes feitos olímpicos não param por aqui, em seu livro “Manthropology”, McAllister também relata outros recordes mundiais que poderiam ser batidos, como salto em altura. Segundo análises de fotos tiradas por uma alemã no século passado da tribo dos Tutsis em Ruanda, em que eles eram obrigados a saltar alturas absurdas, para poderem passar para a masculinidade, eles estariam batendo o recorde mundial que hoje é de 2,45m. Esse e outros achados também são relatados no livro.

Está longe da minha intenção desmerecer os grandes feitos olímpicos, mas esses achados levam a um grande questionamento: biologicamente somos atletas naturais. E talvez nos faça refletir sobre algo ainda mais importante: o ambiente em que vivemos hoje não nos estimula a desenvolver nosso melhor potencial biológico. Na maioria das vezes, precisamos de recursos externos e da manipulação antropogênica da fisiologia humana para melhorarmos nosso desempenho em grande parte das atividades, como o próprio Bolt que conta com uma equipe de profissionais especializados e tecnologia para atingir os seus recordes.

Como sempre tentamos trazer a luz da evolução para o entendimento dos achados científicos. Sendo assim, nós, da Corrida Ancestral, acreditamos que achados como estes somente confirmam o que buscamos em nossas abordagens: resgatar características biológicas favoráveis para a corrida, no sentido de prevenir lesões e melhorar desempenho, entendendo e utilizando melhor a sua biologia. Resumindo, sendo mais humano!

Referências

WEBB, S. Further research of the Willandra Lakes fossil footprint site, southeastern Australia. Journal of Human Evolution, 2007.

WEBB, S., CUPPER, M. L., ROBINS, R. Pleistocene human footprints from the Willandra Lakes, southeastern Australia. Journal of Human Evolution, 2006.

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